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    Responsável Técnico:
    Prof. Dr. Francisco Octávio Teixeira Pacca CROSP 49759

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Nevo pigmentado no palato

RELATO DE CASO CLÍNICO

PROF. DR. ARTUR CERRI
Especialista, Mestre e Doutor em Semiologia pela USP
Prof. Titular da Disciplina de Semiologia da UNISA, UCCB e UNG
Prof. Adjunto de Semiologia da UMC

PROF. DR. SÉRGIO SPINELLI SILVA
Especialista, Mestre e Doutor em Semiologia pela USP
Prof. Titular da Disciplina de Semiologia da UMC
Prof. Adjunto da Disciplina de Semiologia da USP e UNG

PROF. PAULO JOSÉ BORDINI
Especialista, Mestre e Doutorando em Semiologia pela USP
Prof. Adjunto da Disciplina de Semiologia da UNISA, UCCB, UNG e UMC

PROF. CARLOS EDUARDO XAVIER DOS SANTOS RIBEIRO DA SILVA
Mestrando em Semiologia pela UCCB
Prof. Assistente da Disciplina de Semiologia da UCCB e UNG

PROF. FRANCISCO OCTÁVIO TEIXEIRA PACCA
Prof. Assistente da Disciplina de Semiologia da UCCB e UNG

UNITERMOS
Lesões névicas – Nevo – Nevus – Melanoma – Melanose

SINOPSE
Os autores relatam um caso clínico de nevo pigmentado localizado no palato duro de uma paciente de 23 anos. Discutem de forma sucinta a doença e procuram enfatizar o exame clinico objetivo.>

SUMMARY
The auyhors decribe a clinic case of nevus pigmented located in the hard palate of a 23 year old patient. They discuss briefly the illness and try to enphasize the objective clinic exam.

KEYWORDS
Nevus – Melanoma – Melanosis

INTRODUÇÃO

Etimologicamente nevo significa “marca de nascimento”, (2,7) o que nem sempre é verdadeiro pois geralmente essa alteração é evidenciada durante a infância (1,3)

Nevo ou nevus é uma malformação congênita de desenvolvimento (1,6), podendo ser observada na pele ( normalmente na bochecha ou na fronte ) ou em mucosas. É uma patologia rara de ser encontrada na mucosa bucal mas, quando ocorre sua área preferencial de localização é o palato, seguido da mucosa jugal, lábio e língua (2,3,6,8,9). Trata-se de uma lesão superficial que contém células névicas que ocorre com maior frequência na terceira e quarta décadas de vida, sendo o sexo feminino acometido duas vezes mais que o masculino (2,6).

Possui tamanho variável entre 1 e 30 mm, sendo sua lesão fundamental a mácula ou mais raramente a pápula, de coloração castanha, marrom, azul ou negra, que são circunscritas e bem delimitadas, de superfície lisa com consistência semelhante ao tecido de origem.

Histologicamente são reconhecidos diferentes tipos de nevos, conforme a localização das células névicas (1,2,3,4,6,9). O nevo juncional é o tipo mais raro que acomete a cavidade bucal e caracteriza-se pela proliferação de melanócitos na junção do epitélio com o tecido conjuntivo. Esse tipo possui uma considerável tendência a malignização. O nevo composto também raro na boca, apresenta-se como grupos de células névicas na área basal e focos de atividade juncional no epitélio adjacente. O nevo intramucoso é o tipo mais frequente na boca (1,6,8). A atividade juncional não existe e as células névicas agrupam-se na lâmina própria e submucosa, existindo uma faixa conjuntiva separando essas células do epitélio superficial. O nevo azul é o segundo tipo mais frequente, onde o epitélio não é afetado e aparece uma massa de células fusiformes contendo melanina no cório, além da presença de melanófagos ( macrófagos ).

O tratamento preconizado é a remoção cirúrgica, com margem de segurança para evitar-se que uma lesão com tendência a malignização fique exposta aos traumas agudos e crônicos inerentes a mucosa da cavidade bucal. É importante ressaltar que o material biopsiado deve ser obrigatoriamente analisado histologicamente, em vista do seu potencial de malignização.

CASO CLÍNICO

Paciente A.A.M.P., de 23 anos, sexo feminino, branca, brasileira, procurou a Disciplina de Semiologia, com queixa de possuir uma “pinta no céu da boca” ( sic ). A história odontológica demonstrou boas condições buco-dentais, com visitas periódicas ao Cirurgião-Dentista. Por ser professora e possuir um bom nível cultural, a paciente respondia de forma esclarecedora e objetiva a todas as perguntas formuladas pelo profissional.

Por ocasião da história da moléstia atual, a paciente relatou que há aproximadamente 5 anos, notou uma “pequena pinta” assintomática, no palato duro. Relatou ainda que não deu importância ao fato, uma vez que a alteração apresentada era assintomática. No entanto, resolveu procurar um especialista, tendo em vista o crescimento da alteração, particularmente nos últimos 30 dias. Em nenhum momento a paciente foi submetida a qualquer tipo de terapêutica.

Questionada sobre seus antecedentes médicos, relatou não apresentar problemas significativos de saúde presente e passado, apenas doenças próprias da infância. Seus pais são vivos e saudáveis (sic),além de não ter conhecimento de doenças em seus familiares diretos. Desconhecia também qualquer caso de neoplasia em familiares próximos.

Ao exame físico, no momento da consulta, apresentava uma pulsação de 80 b.p.m., pressão arterial de 120 por 70 mmHg e temperatura axilar de 36,3C.

O exame físico extra-bucal, revelou enfartamento ganglionar sub-mandibular móvel, indolor e superficial sugestivo de um quadro de hiperplasia linfóide benigna ( gânglio residual a patologias passadas ) A face apresentava-se simétrica com seu tegumento de textura, coloração e aspecto normais.

Ao exame físico intra-bucal ( fig. 1 ), verificou-se a presença de uma mancha caracterizada por “lesão névica”, localizada no terço médio e lateral do palato duro ( lado esquerdo ), de coloração marrom, formato oval, de superfície lisa, séssil, de bordas regulares e bem definidas e com aproximadamente 6 por 3 mm de área. Não foram observados ou constatados hábitos nocivos ou traumas sobre a lesão. Em vista do exposto, optamos por realizar a biópsia excisional no mesmo dia da consulta. Antes da cirurgia solicitamos o tempo de sangramento ( TS ), o tempo de coagulação ( TC ), hematócrito ( HT ) e hemoglobina ( HB ).

O resultado dos exames foram : TS – 2 minutos, TC – 6,3 minutos, HT – 44% e HB – 14G%, os quais estando dentro dos padrões de normalidade, não contra indicaram a realização da biópsia no mesmo dia da consulta.

Para a realização da biópsia utilizou-se como anestésico, 1,8 ml de Citanest, infiltrado à distância da lesão, para não interferir na análise histológica do espécime.

A incisão para a biópsia foi elíptica e em cunha, sendo que durante sua exérese, notou-se que a mesma encontrava-se infiltrada no tecido conjuntivo subjacente, o que nos levou a colocar o melanoma como hipótese de diagnóstico.

O material removido foi fixado em formol a 10% e encaminhado para exame histopatológico com diagnóstico clínico duvidoso entre nevo e melanoma.

Uma semana após o ato cirúrgico, o tecido encontrava-se parcialmente regenerado. O exame histológico, confirmou a hipótese de nevo intramucoso ( fig 2 ).

Após 14 dias da realização da biópsia o tecido encontrava-se todo regenerado, sendo recomendado o retorno da paciente após 3 meses para controle, onde verificou-se uma perfeita regeneração da fibromucosa palatina, sendo então dada alta para a paciente.

CONCLUSÕES

A análise e estudo do nevo pigmentado na cavidade bucal, nos permitiu chegar a algumas conclusões a saber :

– O nevo ou nevus pigmentado localizado intra-bucalmente é uma lesão relativamente incomum,
– O tipo de nevo intramucoso apresenta remotas possibilidades de degeneração maligna,
– As manchas localizadas na boca, especialmente as enegrecidas requerem por parte do C.D., uma maior preocupação, não afastando a possibilidade de sua remoção,
– O exame clinico detalhado e completo é fundamental na elaboração de hipótese diagnostica confiável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Bhaskar, S.N. : Patologia bucal. Ed. Artes Médicas, São Paulo, S.P., 1976.
  2. Boraks, S. : Diagnóstico Bucal, Ed. Artes Médicas, São Paulo, S.P., 1996
  3. Cawson, R. A. : Enfermidades da boca : Correlações clínicas e patológicas. Ed. Artes Médicas, São Paulo, S.P.,1995
  4. Grinspan, D. : Enfermedades de la Boca. Editorial Mundi, Buenos Aires, 1973.
  5. Lawrance, C. M. & Cox, N. H. : Diagnóstico Clínico em Dermatologia. Ed. Artes Médicas, São Paulo, S. P., 1995
  6. Regezi, J.A. & Sciubba, J.J. : Patologia bucal. Ed. Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro, R.J., 1991.
  7. Shafer,W.G. & Colabs. Tratado de Patologia Bucal. Ed. Interamericana, Rio de Janeiro. R.J. , 1985.
  8. Strassburg, M. & Knolle, G. : Diseases of the oral mucosa. Ed. Die Quintessenz, Berlin, Alemanha, 1972.
  9. Tommasi, A. F. : Diagnóstico em patologia bucal. Ed. Pancast Editorial, São Paulo , S.P., 1991.