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Molusco contagioso em paciente hiv positivo

Molusco contagioso em paciente hiv positivo

  • Prof. Carlos Eduardo Xavier dos Santos Ribeiro da Silva
    Mestre em Semiologia pela UCCB
    Prof. De Semiologia da UNISA, UCCB e UNG
  • Prof. Ronoel Samartini
    Especialista em Semiologia pela USP
    Prof. de Semiologia da UNISA e UCCB
  • Prof. Dr. Artur Cerri
    Especialista, Mestre e Doutor em Semiologia pela USP
    Prof. Titular de Semiologia da UNISA, UCCB E UNG
  • Prof. Henrique Prats
    Mestre em Semiologia pela USP
    Prof. de Semiologia da UNIS

Resumo
Os autores relatam um caso clínico de molusco contagioso, em paciente que procurou a UNISA (Universidade de Santo Amaro) para tratamento odontológico de rotina. Frente ao diagnóstico desta doença dermatológica, associada a anamnese sugestiva de comportamento de risco para a infecção pelo HIV, foi solicitado o exame ELISA, que comprovou a suspeita.

 Unitermos Moluscum contagiosum – Doença dermatológica – Infecção pelo HIV.

 Introdução

A Síndrome de Imunodeficiência Adquirida ( Sida ), apareceu inicialmente em 1981, quando o Centro de Controle de Doenças ( CDC ) da cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, foi informado da ocorrência de 26 casos de Sarcoma de Kaposi e de 5 casos de pneumonia por Pneumocystis carinii. Esses casos ocorreram em Los Angeles e Nova Iorque, sendo que todos os indivíduos comprometidos eram jovens homossexuais do sexo masculino. ( 1,3,4,5,7,8,16,17,18 )

A Sida é uma doença que reduz drasticamente o número de glóbulos brancos , ocasionando um grande aumento no aparecimento de doenças oportunistas e de neoplasias malignas. Entende-se por oportunistas aquelas doenças causadas por microorganismos que convivem com o organismo humano, mas que normalmente são incapazes de provocar danos em indivíduos considerados sadios . ( 1,3,4,5,7,8,16,17,18 )

A Sida é causada por um retrovírus e que portanto possui seu patrimônio genético registrado em ARN. Sua especificidade em relação aos outros vírus é dada pela presença da enzima transcriptase reversa que transcreve o ARN viral numa molécula de ADN, que pode ser incorporada aos cromossomos da célula hospedeira.

Estruturalmente, os retrovírus são esféricos, têm diâmetro médio de cem nanômetros ( um nanômetro é igual a um bilionésimo do metro ) e consistem de um nucleocapsídeo no interior de um envoltório glico-lipo-protéico, mais a molécula de ARN( 2,12,13,21 )

Em 1986, a Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou que o vírus passasse ser chamado de HIV (vírus da imunodeficiência humana).

O HIV foi isolado no sangue, sêmem, secreções vaginais, saliva, lágrima, leite materno e urina, mas evidências epidemiológicas têm implicado principalmente o sangue, o sêmem e a secreção vaginal pela transmissão, devido a sua grande carga viral( 1,3,4,5,7,8,16,17,18 ). O meio clássico de se identificar pacientes infectados pelo HIV é a sorologia ( Elisa e Western-Blot ), onde se observa a presença de anticorpos anti-HIV.

A transmissão do HIV ocorre mais comummente através de contatos sexuais, uso de drogas injetáveis e de transfusões de sangue, a chamada transmissão horizontal ou durante a gestação ou transmissão vertical. Excetuando-se as crianças infectadas durante sua formação, a Sida acometia em sua imensa maioria indivíduos que possuem o chamado comportamento de risco. Ou seja, homossexuais, bissexuais, usuários de drogas endovenosas e pacientes submetidos a transfusão de sangue(11,13).

Hoje, porém, constata-se uma explosão de casos nos pacientes de comportamento heterossexual. Em 1985, a transmissão heterossexual era responsável por 1,9% dos novos casos de Sida. Em 1996, essa taxa aumentou para 22%(11,13).

O HIV, atua destruíndo os linfócitos T4 impedindo assim o perfeito funcionamento do sistema imunológico e deixando o organismo vulnerável a uma imensa gama de patologias( 1,3,4,5,6,7,8,14,16,17,18)

As características clínicas mais comuns da doença são representadas por febre (96%); linfoadenopatia (74%); faringites (70%); ulcerações muco-cutâneas envolvendo boca, esôfago e genitais (70%); mialgias ou artralgias (54%); diarréia (32%); cefaléia (32%); náusea e vômito (27%); hepatoesplenomegalia (14%); candidíase oral (12%), além de cansaço extremo e prolongado, emagrecimento progressivo inexplicável (de 3 a 4 kg. por mês ), suor noturno intenso com intervalo de dias ou semanas e tosse prolongada presentes em todos os pacientes. Alguns desenvolvem ainda, pneumonia por Pneumocystis carinii, Sarcoma de Kaposi ( SK ) e Molusco Contagioso ( MC ) ( 9,10,15,19,20 ).

O MC vem sendo encontrado com frequencia em pacientes com infecção avançada pelo HIV e parece haver relação entre a extensão das lesões e a imunidade celular, pois quanto maiores as lesões de molusco, menor é a contagem de células CD4 ( linfócitos T4 ).

O Molusco Contagioso é uma infecção dermatológica causada por um vírus DNA de dupla hélice da família poxivírus, que raramente acomete a mucosa e que, excluído-se os pacientes portadores de Sida, ocorre principalmente em crianças. Clinicamente a lesão se apresenta como uma massa nodular exofítica de centro umbelicado e de coloração semelhante a da pele normal. Pode ser única ou múltipla e estar ou não associada a outras patologias dermatológicas( 9,10,15,19,20 )..

Habitualmente é assintomática, tornando-se dolorosa, apenas quando infectada. As áreas comumente mais atingidas são as pálpebras, a face, o pescoço e a região genital, quando atinge a pele, e os lábios e mucosa jugal quando ocorrem em mucosa. Associa-se a disseminação do MC na face com o ato de barbear-se.

A confirmação do diagnóstico clinico de MC é feita através de biópsia, que apresenta corpúsculos de inclusão característicos. A presença de lesões de MC significa uma depressão importante do sistema imunológico, por si só já sendo suficiente para a hipótese de diagnóstico de HIV, que obviamente deve ser confirmado com exames sorológicos específicos( 10, 15, 19, 20 ).

O tratamento das lesões de MC é cirúrgico, através de curetagens e cauterização ou com crioterapia, aplicando-se nitrogênio líquido. Outra possibilidade é o emprego de podofilina ou ácido tricloroacético. A recorrência da patologia é regra.

Até o momento, o tratamento da Sida apresenta prognóstico duvidoso, procurando apenas aumentar e melhorar a sobrevida dos pacientes, além de evitar o aparecimento de doenças oportunistas. Uma associação de 3 medicamentos ( AZT, 3TC e Saquinavir ) tem sido utilizada pelos pesquisadores com resultados positivos quanto à diminuição da quantidade de vírus circulante. Essa associação que combina dois inibidores de transcriptase reversa e um inibidor de protease tem proporcionado nova expectativa aos pacientes.

Apesar de não existir cura, nos últimos anos a sobrevida dos pacientes tem aumentado significantemente, graças aos avanços técnico-científicos da medicina(13).

Caso Clínico 

Paciente R.S.A , sexo masculino, 25 anos, melanoderma , procurou a clínica odontológica da Universidade de Santo Amaro ( UNISA ) para tratamento de rotina. Encaminhado para a disciplina de Semiologia para exame clínico, verificou-se sobre sua história médica, que ele havia sido hospitalizado há mais ou menos 10 anos para tratamento de pneumonia. Com relação aos hábitos informou ser viciado em crack, cocaína e maconha.

Relatou ainda ter feito uso de cocaína injetável compartilhando a mesma seringa com o grupo de três viciados. Sendo que o compartilhamento da seringa deu-se da seguinte forma : Um dos viciados aspirava aproximadamente 5 ml de seu sangue, diluía a droga e posteriormente a entregava aos outros para que cada um se injetasse 1 ml. Apresentava emagrecimento inexplicável de aproximadamente 5 quilos no período de trinta dias.

Além de anorexia, prostração, enfraquecimento, náuseas e diarréia persistente. Está atualmente internado numa clínica evangélica de recuperação de viciados. Quanto ao exame físico apresentava, no momento da consulta, PA de 130 por 85 MMHg, pulso de 87 BPM e temperatura axilar de 36,2 graus. Ao exame extra-bucal apresentava numerosas pápulas de aproximadamente 3 mm de diâmetro, circunscritas, e indolores, na região supra hioidéia que se estendiam por toda a região cervical anterior do pescoço.

O exame intra-oral não apresentou nenhuma alteração de sua morfologia normal.

Questionado se apresentava essas lesões em outras partes do corpo, relatou ter lesão semelhante há mais de um ano no prepúcio junto a glande. Quanto ao exame intra-bucal apresentava grupo de múltiplas ulcerações na gengiva inserida superior, indolores e não percebidas pelo paciente.

Solicitado exames complementares: hemograma completo com contagem de plaquetas e teste anti-HIV, verificou-se que o hemograma, apresentava ligeira linfocitose e o teste anti-HIV foi positivo para HIV.

Tendo em vista a presença das lesões dermatológicas associadas as lesões genitais, nos foi permitido fazer um diagnóstico clinico de MC, diagnóstico esse reforçado pela condição de paciente HIV.

Discussão

O quadro clínico característico de MC na região supra hioidéia apresentado pelo paciente, associado ao órgão genital é patognomônico e clinicamente diagnóstico. Esse quadro está quase sempre associado a pacientes com doença pelo HIV, com comprometimento imunológico de mau prognóstico.

O paciente foi encaminhado ao CRT-AIDS ( Centro de Referência e Treinamento em Aids ) para tratamento médico.

É importante ressaltar que o diagnóstico de MC, bem como o de HIV, só foi possível graças ao detalhado exame clinico realizado.

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